Carta aos profissionais que trabalham com transtornos de aprendizagem


Carta fictícia inspirada em uma publicada no site Madri con la Dislexia
  
Minha querida especialista em transtornos de aprendizagem, 

Você não imagina quantas voltas demos para chegar até aqui. Foram tantas reuniões com professores e coordenadores que não sabiam nos dizer o que estava acontecendo com o nosso filho, mas insinuavam que ele era imaturo, distraído, mimado, preguiçoso e “lento”. 

Fomos atrás de pediatras, neurologistas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, psicopedagogas, fonoaudiólogos, professores particulares, “especialistas” com soluções milagrosas como “óculos coloridos” (até isso meus Deus!!), e mesmo assim, ninguém conseguia explicar o que se passava. Éramos pais desesperados em busca de ajuda para o nosso filho que lia com dificuldade e tinha problemas na escola. 

Buscando descobrir o que estava acontecendo, sofríamos muito, pois os “profissionais” que encontrávamos no caminho diziam que os problemas escolares do nosso filho estavam relacionados a forma como nós o educamos. Desta maneira, a culpa e a ansiedade não paravam de crescer dentro de nós e para nossa tristeza, não sofríamos sozinhos, nosso filho sofria muito mais, pois era cobrado duramente na escola e em casa.

Preciosos anos e muito dinheiro foram desperdiçados nesta busca. Até chegar o dia em que um neurologista diagnosticou a dislexia associada ao Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH. Nunca podíamos pensar que os professores e coordenadores das escolas com os quais nos reunimos inúmeras vezes não tivessem conhecimento sobre a dislexia. Que profissionais da área de psicologia, medicina, fonoaudiologia pudessem desconhecê-la, fazendo parecer que é algo raro, sendo que ela afeta cerca de 10% a 15% da população mundial. Que existia déficit de atenção sem hiperatividade (menino que vive no “mundo da lua” diferente do menino acelerado e agitado). 

Após a indicação do neurologista, chegamos até você. Quero que saiba que você é a nossa esperança e também a de nosso filho. Nossas vidas têm sido um estresse. Na escola o professor não o compreende e não o ajuda. Nosso filho começa a ter problemas de ansiedade e autoestima. Gastamos horas fazendo deveres que os colegas terminam em poucos minutos. As vezes ficamos desanimados, nervosos e até mesmo obcecados com a escola, com os deveres, com as notas...

Queremos que você saiba da importância do seu trabalho. Depositamos em você a esperança de resgate da autoestima e confiança do nosso filho. Acreditamos que você vai  ensiná-lo a ler e também a compreender o que lê, melhorar a letra e ortografia, fazer com que a escola deixe de ser um pesadelo e que ele seja capaz de ter uma vida normal como a dos seus amigos. 

Uma mãe nos disse que você é umas das únicas pessoas que entende o que se passa com nossos filhos, que acredita que eles são capazes de superar as dificuldades. Disse também que você acolhe bem as famílias, nos ensina sobre os transtornos de aprendizagem, nos encoraja e trata todas as situações sem dramas. 

Saiba que você, daqui para frente, será uma pessoa essencial nas nossas vidas. Olha se você fizer mesmo tudo que dizem que você é capaz, você estará para sempre em nossos corações e nas nossas memórias! Quando meu filho for adulto, tendo superado as dificuldades e aprendido as estratégias para lidar com a dislexia e o déficit de atenção, lembraremos de você com carinho e muito agradecimento. 

Confiamos em você!

Pais em busca de ajuda.

Dislexia - Esforço e Resultado



É mais importante valorizar o esforço de uma criança ou adolescente disléxico que os resultados alcançados em uma atividade avaliativa.

Os professores e coordenadores devem ter em mente que a nota baixa, nem sempre significa falta de empenho ou ausência de apoio familiar.

Os estudantes e familiares precisam saber que a trajetória escolar sempre será um desafio a ser superado com amor, paciência e persistência. O esforço será sempre maior, mas acreditem, a recompensa virá, se não desanimarem no meio do caminho.

A escola deve entender que os alunos com transtornos de aprendizagem não precisam de compaixão, mas sim de compreensão e ações de incentivo e apoio durante a trajetória escolar.

Por que ele joga videogame mas não faz o dever?

Por que uma criança ou adolescente com TDAH consegue ficar horas focado no videogame, mas se dispersa facilmente na hora de estudar ou de fazer o dever de casa?


Muitos pais com filhos diagnosticados com TDAH já se fizeram esta pergunta, que foi respondida de forma brilhante por Russel Barkle, professor de Psiquiatria Clínica da Medical University of South Carolina  e professor pesquisador da State University of New York Upstate Medical University em Syracuse. 

De acordo com ele, realmente parece paradoxal que uma criança ou adolescente mantenha o foco quando joga videogame e se disperse facilmente durante as tarefas escolares. No entanto, este comportamento visto como falta de disciplina ou desobediência, não representa um ato intencional da criança e ocorre porque o TDAH afeta a região do cérebro responsável, dentre outras, pela automotivação.  

A automotivação é a capacidade de motivar a si mesmo para conseguir executar as atividades necessárias para concluir uma meta, sem a necessidade de estímulos externos, principalmente metas que oferecem recompensa a longo prazo, como é o caso das tarefas escolares. A ausência de automotivação faz com que crianças e adolescentes com TDAH não consigam terminar as tarefas escolares,  pois sua persistência desmorona, elas se cansam, ficam desmotivadas e perdem o foco. Por outro lado, conseguem passar horas jogando videogame porque a ausência de automotivação é superada por estímulos externos, através de recompensas imediatas como mudanças de fases, ganho de moedas, evolução do personagem e outros.

Os pais precisam ter em mente que os filhos com TDAH, sozinhos, não conseguem a força de vontade necessária para executar as atividades escolares. Uma solução é criar estímulos artificiais, através de recompensas imediatas como "faça o dever que em seguida vamos assistir um filme juntos" "terminando o dever você pode usar o celular" e outros. 

A chave do sucesso dos nossos filhos com TDAH é o amor, a paciência e a persistência.

Dislexia - Steven Spielberg

Encontrei esta entrevista e fiquei encantada. Steven Spielberg é considerado um dos mais influentes diretores da história do cinema mundial. É um dos sócios da DreamWorks SKG e umas das maiores fortunas de Hollywood.

Em 2007, Spielberg foi diagnosticado como disléxico. Nesta fantástica entrevista, ele recorda os anos difíceis na escola, o atraso na leitura em relação aos colegas, o medo de ler em voz alta, o bullying, as formas de compensar sua lentidão na leitura e ainda dá conselhos para as crianças e jovens disléxicos. Não deixe de assistir!